quarta-feira, 3 de agosto de 2011

o que aprendi com os amigos que me antecederam (3)

O que aprendi com o primeiro casal

                Quando andamos na presença de Deus temos uma visão; dEle, do mundo e de nós mesmos. Ao nos afastarmos de Deus essa visão muda. É uma questão de referencial mesmo. Imagino a visão que Adão e Eva possuíam de Deus, quando os visitava; do mundo, em todo seu resplendor e beleza incontaminados pelo pecado e de si próprios, ao se contemplarem. Após a queda, a primeira ação relatada na Bíblia está ligada à mudança de visão. Os olhos abertos, “esclarecidos” pelo pecado, permitiram ao casal que notassem que estavam nus (Gn  3:7).

                Já aqui temos uma lição sobremodo importante. Quando estamos completamente entregues diante da majestade, da graça, da santidade e da justiça divinas, com os olhos focados em Deus somente, nos esquecemos de nosso pecado. Quando focamos os olhos em nós, em nossa condição, apenas poderemos ver  a miséria e a degeneração de nossa total depravação. Isso se torna simbolicamente bem claro na experiência de Pedro andar sobre as águas. Enquanto estava focado em Cristo conseguiu ir bem. Ao voltar os seus olhos para o ambiente, para si e para o que estava fazendo começou a afundar. E se não fora a graça e o poder de Jesus teria perecido (Mt 14:28-30).

                Quando conhecemos a Deus e a nós mesmos também, em toda nossa fealdade, é inevitável a ocorrência de um de dois possíveis sentimentos. Ou confiamos nAquele que é poderoso para nos manter e nos salvar ou sentimos medo. Para confiar o nosso foco deve estar em Deus. Tememos quando nosso foco está em nós. Ao ver sua nudez Adão temeu.

                As conseqüências desse temor são manifestas, desde então, em nossas vidas por três atitudes que são demonstradas pelo casal edênico:

1) coseram folhas de figueiras e fizeram cintas para si (Gn 3:7),

2) esconderam-se da presença do Senhor... (Gn 3:8) e

3) fugiram de sua responsabilidade pessoal culpando outro pela desobediência cometida (Gn 3: 12-13)

As lições que podemos aprender aqui são simples e claras. A profundidade do aprendizado vai depender, no entanto, do quanto consideramos o nosso pecado ofensivo a Deus. Isso é um problema hoje, num mundo de pecado aberto, que faz apologia franca ao mal, que perverte o direito e a justiça, que torna o bem em mal e o mal em bem, as trevas em luz e a luz em trevas. PECADO é um conceito que o mundo não aceita mais e que muitas igrejas que se dizem evangélicas baniram de suas doutrinas e púlpitos. O homem moderno e pós-moderno é visto como falho, limitado, doente, desajustado, vítima social. Nunca como transgressor e ofensor contra um Deus Santo e merecedor de uma ira justa.

Os poucos bastiões que ainda mantém o conceito de pecado podem estar contaminados pelo relativismo. Há um ensino aceito de que pecado depende da circunstância. Dessa forma o humanismo cristão põe o homem como centro e norma. Esquecem-se de que a gravidade do pecado é determinada por contra quem se peca. E a Bíblia é muito clara. Pecamos contra outros homens, pecamos contra o planeta, mas TODO PECADO É CONTRA DEUS (Sl 51:4).

O senso claro da transgressão contra Deus leva o homem que não se arrepende a efetuar a típica ação de criar uma coberta para si. Tomamos trapos de imundícias (Is 64:6), folhas mal costuradas, obras mortas, obras da carne e nos cobrimos com isso criando a ilusão, para nós mesmos somente, de que está tudo bem. Podemos conviver tanto com isso, e tantas vezes fazendo isso, e com tantos que também fazem isso, que nos acostumamos. Nossa mente se torna cauterizada e o humanismo e o secularismo passam ser opções entorpecentes (I Tm 4:1-2). Viram o nosso sedativo e nossa adicção para a justiça própria. Transformam-se em nossa estação de parada na nossa fuga de Deus.

Mas Deus é um Deus de busca. Não gosto muito de um autor cristão que compara Deus a um cão de caça, farejador, mas num ponto ele tem razão. Deus vai atrás de cada pessoa. Ele busca e Ele acha. E quando encontra cada um de nós é inevitável o confronto: “Quem te fez saber que estavas nu?” “Fizeste o que te ordenei não fazer?” (Gn 3:11). Há amor, há perdão, há salvação. Mas muitas vezes nossa atitude (extremamente encorajada na sociedade moderna) é depositar a culpa no outro. “A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.” Adão, assim como Eva, ao culpar a serpente, não entendeu que, ao culparem outros na realidade estavam culpando a Deus.

Quantas vezes questionamos nossa vida, nossas condições, nossos próximos. Se formos o que somos ou se estamos na enrascada que estamos a culpa é de outro. Eu sou bom. O meio em que vivo, as circunstâncias, as pessoas é que me levam a agir como ajo. Não nego o fato de que, eventualmente, somos duramente forçados a fazer escolhas dentro de circunstâncias extremas. Mas ainda assim são escolhas. E escolhas são feitas por seres moralmente responsáveis, ou seja, devem responder pelo que escolhem. E, resumindo a história, essa questão sempre vai acabar no dilema: Se existe Deus porque Ele permitiu o mal? Se existe Satanás porque Deus não o destruiu deste o princípio? E por aí vai. Não percebemos que sempre estaremos dizendo: A minha vida deveria ser como eu acho que deveria ser e não dentro do Teu propósito. A culpa é Tua.

Ao agirmos dessa forma não percebemos (e está descrito de forma bem clara, na seqüência da queda – Gn 3:14-24) que além de não termos arrependimento verdadeiro diante de Deus trazemos maldição de uns para outros e contra o planeta. Qual é o pecado que destrói nossas vidas. Não é o pecado de outros. É o nosso próprio pecado. Graças a Deus, que em meio a toda a desgraça que se sucedeu, temos a promessa do salvador e redentor que viria e veio para salvar os verdadeiramente quebrantados e arrependidos. Aqueles que choram pelo seu próprio pecado. Aqueles que sabem que os cravos enfiados nas mãos e pés de Jesus foram martelados pelas suas próprias mãos, que sabem que a coroa de espinhos foi feita por eles mesmos.

Soli Deo Gloria.