sábado, 17 de setembro de 2011

Os dias de Noé

"Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem." Mt 24:37

Qual era o pecado dos dias de Noé? A qual situação Cristo nos alerta?
Por certo as pessoas antediluvianas faziam coisas bem usuais. Seu dia a dia era repleto das atividades que hoje nós também fazemos. Buscar o sustento e comer, após períodos de trabalho relaxar e festejar, buscar relacionamentos casar-se e dar-se em casamentos. Tudo o que procuramos hoje, mesmo que a roupagem moderna seja diferente. Como disse o sábio "nada há de novo sob o sol" (Ec 1:9b).

Mas, se o comportamento humano basicamente é o mesmo, para o que nos alerta Jesus? Qual o pecado?
O dilúvio veio a toda uma geração de seres humanos porque "viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente." (Gn 6:5).

Ao lermos esse texto não podemos ter a ilusão de que o juízo veio a eles, através do dilúvio, por causa de atos pecaminosos. Definitivamente não. O texto nos informa que Deus sondara os corações e que proporcionalmente à multiplicação numérica das pessoas a depravação e a maldade intrínseca a cada ser humano se multiplicou também. E não é só isso a maldade era contínua e dominava TODOS os pensamentos daqueles seres humanos.

O grande pecado dos antediluvianos foi desconsiderar a Deus. Desprezar progressiva e cabalmente ao seu criador e mantenedor. Se inflaram em seus próprios conhecimentos, em seu desenvolvimento tecnológico, em sua suposta liberdade, em seu suposto livre-arbítrio para decidir o que é certo e o que é errado.
O que vemos hoje no mundo? Somos mais de 7 bilhões de pessoas no planeta. Para os que gostam de números somos cerca de 2 bilhões de cristãos. Alguns contentam-se com isso e crêem que a fé cristã está crescendo. Algumas estimativas apontam para mais de 36.000 outras para mais de 40.000 denominações cristãs no planeta. das mais esdrúxulas às mais conservadoras. o que isso quer dizer?
Penso que, como no tempo de Noé, onde apenas uma família foi salva pela graça divina, e como no tempo de Elias, época de apostasia massiva, havia 7.000 pessoas fiéis, os números de hoje não deveriam nos impressionar muito. Igrejas lotadas e a mera confissão de que Jesus é o Senhor sem um viver que corresponde ao discipulado aos pés da cruz apenas tornam-se miragens no cenário da fé cristã. Números que enchem estatísticas mas não tem significado real nem prático.

Ao olhar para os dias recentes é impossível ao crente não compará-los aos dias de Noé. Não devemos nos orgulhar. Devemos nos achegar a Deus, lavar as nossas mãos, pecadores que somos, purificar os nossos corações de vontade dupla. Devemos sentir as nossas misérias, lamentar e chorar. Que todo nossso riso e contentamento neste mundo se converta em pranto e que toda nossa alegria com uma vida fútil e superficial, que apenas professa piedade mas nega-lhe o poder se transforme em tristeza. Que ao estarmos assim quebrantados possamos confiar que o Senhor se achegará a nós. Humilhemo-nos perante o Senhor e Ele nos exaltará (Tg 4:8-10). Não para esta vida, mas para a vida eterna ao Seu lado.

O que aprendi com Caim e Lameque

Com respeito a Gênesis 6:2 creio que a expressão “filhos de Deus” se refere a seres humanos mesmo podendo se aplicar a reis ou governantes ou não1 .  Desta forma a dicotomia de duas linhagens de pessoas é bastante clara. Sou reformado e conservador na interpretação bíblica. Creio que a partir de Caim e Abel já se pode distinguir duas vertentes de seres humanos; os adoradores fiéis a Deus e os infiéis. O restante todo da história bíblica, que tem como eixo central a intervenção divina nessa história, em Cristo, é a demonstração da existência e da batalha entre esses dois grupos de pessoas como reflexo do conflito entre Deus e Satanás até que este venha a ser eliminado no lago de fogo juntamente com a morte (Ap 20:10-14). A propósito desse argumento veja-se I Jo 3:12 a respeito do caráter e posição de Caim.

Caim representa não somente a origem daquilo que virá a ser a expressão do mundo com as suas concupiscências más. Ele é, antes, a representação de um sistema falso de adoração a Deus.  Caim tinha fé em Deus (ao menos de que Ele existia e devia ser adorado) e trouxe suas ofertas ao Senhor, mas não com inteireza de coração2.  Caim possuía fé, mas não a fé salvífica que dá crédito somente a Deus pela redenção. Uma fé não salvífica leva a buscar formas de adoração espúrias.

O fato é que, como visto no post anterior, Caim teve olhos maus sobre a adoração legítima de Abel. Sua indisposição contra seu irmão foi apenas um reflexo de sua indisposição para com o próprio Deus. Tem sido assim na história desse mundo desde o início e o será até o fim. Os cristãos fiéis devem esperar por sofrimento e reprovação do mundo mas há uma promessa de recompensa (Hb 11:4, Mt 5:10-11). Fora do relato de Gênesis 4 Caim é citado como nome de cidade uma vez (Js 15:57) e como exemplo de impiedade em três outros textos (Hb 11:4 – em oposição a Abel, I Jo 3:12 – onde é dito que ele era do maligno devido seu caráter mau, e em Jd:11 – como exemplo da corrupção e brutalidade irracional que a iniquidade dá origem.

Note que o relato bíblico termina o capítulo 4 com a descendência a partir de Caim. Tomando-se Adão como o primeiro tem-se: 1-Adão, 2-Caim, 3-Enoque, 4-Irade, 5-Meujael, 6- Metusael, 7-Lameque. O relato das genealogias tem uma pausa para expor algo a respeito de Lameque. Dele se narra o primeiro canto na Bíblia, e é um canto de orgulho pelo fato de ter matado um homem e um rapaz. Além desse fato nota-se o primeiro relato de bigamia, pois ele tomou duas mulheres para serem suas esposas. Lameque representa o processo de endurecimento que o pecado causa, progressivamente, naqueles que rejeitam a Deus e vivem de acordo com seus próprios desígnios.

O capítulo 4 termina com uma nota de esperança. Adão e Eva tiveram outro filho, descrito como alguém que tomaria o lugar de Abel. Repare que, a título de comparação, o capítulo 5 fornece a genealogia a partir de Adão e deste terceiro filho, Sete. Desta forma temos: 1-Adão, 2-Sete, 3-Enos, 4-Cainã, 5-Maalalel, 6- Jarede, 7-Enoque (este o que foi tomado por Deus, para si). Note o contraste entre a impiedade de Lameque (o sétimo na linhagem de Caim) com a piedade de Enoque (o sétimo na linhagem de Sete).

O capítulo 6 termina com a descrição das gerações de Sete até Noé e seus filhos. Apesar do que foi dito de Enos, que nos seus dias se começou a invocar o nome do Senhor, há a informação paralela em Gn 6:5 de que “o Senhor viu que a maldade do homem se multiplicava na terra e que era (e é3) continuamente mau todo o desígnio de seu coração”.

O que aprendi com Caim e Lameque?

1 - posso tentar adorar a Deus de qualquer outra forma que não seja a que Ele determina. Não sou impedido nisso. Mas o fato de a minha adoração ser de acordo com minha vontade não implica que Deus a deva aceitar. Posso ser um adorador (no sentido amplo da expressão), mas estar bem distante da vontade de Deus;

2 - chega um ponto em que sou confrontado, como Caim o foi, e levado a refletir. Como me relaciono com Deus? É uma relação honesta ou sou somente um adorador de fachada? Buscando a sensualidade e os prazeres da carne sob a máscara de culto à Deus? Quando Deus, em sua eleição e providência, se revela ao homem a única coisa que lhe resta é certificar-se de sua pecaminosidade e impureza (Is 6:5);

3 - se eu não tenho o dom da fé salvífica a fé que desenvolvo é, meramente, a fé dos demônios: sabem que Deus existe, prostram-se diante dEle porque é imperativo, mas o coração está centrado no próprio eu. Não há amor, não há prazer e não há comunhão verdadeiros;

4 – Caim me leva a refletir que, no pecado, quero ferir a Deus.  Ninguém pode fazer Deus sangrar vencendo-O, desta forma transfiro o meu ódio e minha vingança contra o meu irmão que exala o perfume de Cristo. Não vejo que o bom testemunho de um crente fiel é um alerta para mim. Ignorante que é, o ímpio não percebe que o seu pecado faz Deus sofrer e que as feridas em um crente fiel, por vingança contra Deus, o ferem mais ainda. Isso nos leva a refletir quão grande é o ódio de Deus contra o pecado e qual será a carga dessa ira divina sobre os iníquos que seguem a satanás (Ap 20: 9-15).

5 – sou levado a refletir que o pecado acariciado, desejado e praticado de forma contínua cauteriza a mente a ponto de homens acharem comum, normal e, subsequentemente correto a sua prática. O canto de Lameque com ênfase de que a vingança para ele seria setenta vezes maior que a vingança contra Caim é uma exaltação a si mesmo como realizador de feitos maiores que seu antepassado. Veja o que a humanidade busca hoje com relação ao aborto, homossexualismo, pedofilia, fornicação, adultério, vários tipos de crimes, a perversão do direito, e etc... Para que o mal prevaleça ainda somam uma batalha árdua contra a Bíblia, a fé verdadeira, a adoração verdadeira, uma visão correta de Deus, doutrinas equilibradas, etc...

6 – ambos me levam a refletir: Se há duas linhagens de pessoas no mundo, através da história, a qual delas pertenço? Faço parte da linhagem dos fiéis filhos de Deus, dos verdadeiramente renascidos, convertidos e regenerados? Ou faço parte dos degenerados em rebelião?

7 – sendo honesto: como minha adoração reflete o que vai em meu coração? Sou fiel? Ou sou um hipócrita? Um rebelde sob uma máscara?

Somente a graça e a misericórdia divina podem nos revelar. Atentemos ao que nos diz Tiago 4:6b-10:

Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.”

Soli Deo gloria.

notas
1 – Há três principais teorias sobre a interpretação de Gn 6:1-2. Para abordagem inicial veja nota de estudo, por exemplo, como na Bíblia de Estudo Palavras Chave, CPAD, 4ª, 2011, pg. 11-12

2 – Para ilustrar e esclarecer mais veja a mensagem de Josemar Bessa: Cultuando a Deus como Caim ou Abel? Em http://vimeo.com/28881175 ou em http://www.josemarbessa.com/2011/09/cultuando-deus-como-caim-ou-abel.html

3 – comentário do autor

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O que aprendi com Caim e Abel

          É significativo que a narrativa bíblica passe o foco do primeiro casal para os dois irmãos. Há comentaristas que vêem aqui, já, um protótipo da divisão da humanidade entre os adoradores do Senhor e os ímpios, iníquos.
          O foco da narrativa centra-se no evento do sacrifício e, embora algumas pessoas vejam um significado redentivo (no fato de que a oferta de Abel era de sangue e a de Caim não era) não há base textual para supor assim. o foco está no coração dos adoradores. Foi realizada uma oferta a Deus, por cada um dos dois, com base no que tinham, segundo o seu coração. O diretor John Huston no filme "A Bíblia: o começo" (The Bible: the beginning, 1966) retrata de forma muito criativa esta cena ao mostrar como Caim reconsidera o quanto está ofertando e retoma uma certa quantia da dádiva.
          Bem, a Bíblia é muito clara em diversos locais: os olhos do Senhor estão atentos para aquele que é humilde e de coração contrito (conf. Is 57:15, Sl 51:17, 1 Pe 3:12). A atitude de Abel é aquela que o Senhor ansiava por ver em um adorador e Ele se alegrou e teve prazer na oferta de Abel. O problema é que, como Paulo demonstra muito bem, um bom testemunho tem uma função dupla (2 Co 2:15-16); aroma de vida para os que se salvam e cheiro de morte para os que se perdem.
          Caim teve desgosto com Deus. O Senhor já lhe conhecia o coração e sabia que as coisas não iam bem. A recusa da oferta de Caim não foi a recusa de uma formalidade, foi a recusa da essência, do interior, do coração mesmo (Mt 5:23-24). A inveja que o levou a descarregar ira sobre seu irmão "certinho" foi apenas a manifestação do descontentamento com Deus lançado em alguém mais fraco, visto que ele não podia combater com o Senhor. Agora o exterior de Caim revelava clara e abertamente o que ia em seu íntimo.

          Quantas vezes eu não descarrego em outras pessoas o meu descontentamento com Deus? Ainda mais hoje, em dias de teologias de prosperidade?  Quantos de nós somos como Jó, submissos a aceitar tanto o bem como o mal das mãos do Senhor? (cf. Jó 2:9-10).

          O que mais me toca, quando leio esse relato, é o fato de que Deus busca a Caim. Vai atrás dele e revela que o conhece no íntimo, que sabe seus sentimentos e emoções. Ora o Senhor nos clama e adverte a todo momento: "Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos se agradem dos Meus caminhos" (Pv 23:26). Deus faz uma promessa: se procederes bem, não é certo que serás aceito? Aqui não podemos ver autorização para uma espiritualidade ética apenas, nem brechas para uma salvação por méritos baseados em boas obras. a mensagem é clara. fazer o certo molda a vontade tando quanto a vontade reta determina a fazer o certo. um cristão deve ser reto porque é o certo. Gosto de uma mensagem do Pr. Tim Conway que nos faz refletir sobre o fato de vivermos buscando uma moralidade mínima, sempre perguntando até onde podemos ir próximos do pecado e ainda dizer que somos crentes. Curiosamente ele termina com um apelo contundente: quer ser mundano? volte para o mundo!
          A advertência que o Senhor faz a Caim é muito esclarecedora: Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo (Gn 4:7b). Muitos comentaristas vêem aqui a figura de um pequeno demônio, ou uma fera, na soleira da porta, prestes a atacar a pessoa que sai - o hebraico permite essa leitura. Isso remete ao que Pedro disse a respeito de Satanás, que "anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa devorar ( 1 Pe 5:8) e conclama os crentes à vigilância e sobriedade.  
          Aqui já há espaço suficiente para uma reflexão muito profunda: Ser tentado não é pecado. Mas ser tentado mostra, diretamente, como o meu coração é mau e impuro, pois sou tentado conforme minhas próprias concupiscências (maus desejos, cobiças) Tg 1:14. Deus estabelece os termos da batalha: o seu desejo (da tentação ao pecado) será contra ti - mas a ti cumpre dominá-lo.
          Não sou salvo, em Cristo, para viver como eu quero, para ter o que eu quero, para que tudo seja como eu quero. Pelo contrário, ser salvo em Cristo implica em passar por um longo e doloroso processo de luta constante contra as minhas vontades pessoais: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me (Mt 16:24). Lucas (9:23) ainda adiciona, negue-se dia a dia. Como bons influenciados pela religião romana temos o hábito de pensar muito na cruz pessoal como problemas, dificuldades da vida, principalmente externas ao nosso coração-mente (pobreza, um cônjuge ruim, um filho rebelde, um emprego difícil, um desapontamento, uma deficiência física ou uma doença, por exemplo). Creio que o principal enfoque da cruz, dado por aquele que sabia que deveria se negar em nosso favor (deixou o céu por nós), é a negação do EU, que hoje é tão entronizado na religião humanista existencialista atual. Eu devo morrer, nas minhas vontades e paixões, para que possa ser salvo. Esse é o sentido maior de "quem perder a vida por minha causa, achá-la-á
          Bem, negar o EU não é coisa fácil. Nem todos somos como Caim que resolveu a sua ira contra a soberania divina matando os Abéis que nos incomodam. Ao menos não fisicamente. O que resulta, quando não negamos o Eu é o que podemos ver hoje. Formas espúrias de adoração que contentam o ego do homem mas não dão prazer a Deus. Vidas cristãs que tem força nos lábios mas não tem poder no testemuho da fé. Massas que se dizem convertidas, mas pouca transformação no mundo.
          Ao nos postarmos como adoradores devemor refletir profundamente quem deve ser adorado. O Deus soberano, Senhor dos céus e da terra ou eu, homem finito e impotente. Se escolhermos a segunda opção só nos caberá andarmos errantes pela terra.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

o que aprendi com os amigos que me antecederam (3)

O que aprendi com o primeiro casal

                Quando andamos na presença de Deus temos uma visão; dEle, do mundo e de nós mesmos. Ao nos afastarmos de Deus essa visão muda. É uma questão de referencial mesmo. Imagino a visão que Adão e Eva possuíam de Deus, quando os visitava; do mundo, em todo seu resplendor e beleza incontaminados pelo pecado e de si próprios, ao se contemplarem. Após a queda, a primeira ação relatada na Bíblia está ligada à mudança de visão. Os olhos abertos, “esclarecidos” pelo pecado, permitiram ao casal que notassem que estavam nus (Gn  3:7).

                Já aqui temos uma lição sobremodo importante. Quando estamos completamente entregues diante da majestade, da graça, da santidade e da justiça divinas, com os olhos focados em Deus somente, nos esquecemos de nosso pecado. Quando focamos os olhos em nós, em nossa condição, apenas poderemos ver  a miséria e a degeneração de nossa total depravação. Isso se torna simbolicamente bem claro na experiência de Pedro andar sobre as águas. Enquanto estava focado em Cristo conseguiu ir bem. Ao voltar os seus olhos para o ambiente, para si e para o que estava fazendo começou a afundar. E se não fora a graça e o poder de Jesus teria perecido (Mt 14:28-30).

                Quando conhecemos a Deus e a nós mesmos também, em toda nossa fealdade, é inevitável a ocorrência de um de dois possíveis sentimentos. Ou confiamos nAquele que é poderoso para nos manter e nos salvar ou sentimos medo. Para confiar o nosso foco deve estar em Deus. Tememos quando nosso foco está em nós. Ao ver sua nudez Adão temeu.

                As conseqüências desse temor são manifestas, desde então, em nossas vidas por três atitudes que são demonstradas pelo casal edênico:

1) coseram folhas de figueiras e fizeram cintas para si (Gn 3:7),

2) esconderam-se da presença do Senhor... (Gn 3:8) e

3) fugiram de sua responsabilidade pessoal culpando outro pela desobediência cometida (Gn 3: 12-13)

As lições que podemos aprender aqui são simples e claras. A profundidade do aprendizado vai depender, no entanto, do quanto consideramos o nosso pecado ofensivo a Deus. Isso é um problema hoje, num mundo de pecado aberto, que faz apologia franca ao mal, que perverte o direito e a justiça, que torna o bem em mal e o mal em bem, as trevas em luz e a luz em trevas. PECADO é um conceito que o mundo não aceita mais e que muitas igrejas que se dizem evangélicas baniram de suas doutrinas e púlpitos. O homem moderno e pós-moderno é visto como falho, limitado, doente, desajustado, vítima social. Nunca como transgressor e ofensor contra um Deus Santo e merecedor de uma ira justa.

Os poucos bastiões que ainda mantém o conceito de pecado podem estar contaminados pelo relativismo. Há um ensino aceito de que pecado depende da circunstância. Dessa forma o humanismo cristão põe o homem como centro e norma. Esquecem-se de que a gravidade do pecado é determinada por contra quem se peca. E a Bíblia é muito clara. Pecamos contra outros homens, pecamos contra o planeta, mas TODO PECADO É CONTRA DEUS (Sl 51:4).

O senso claro da transgressão contra Deus leva o homem que não se arrepende a efetuar a típica ação de criar uma coberta para si. Tomamos trapos de imundícias (Is 64:6), folhas mal costuradas, obras mortas, obras da carne e nos cobrimos com isso criando a ilusão, para nós mesmos somente, de que está tudo bem. Podemos conviver tanto com isso, e tantas vezes fazendo isso, e com tantos que também fazem isso, que nos acostumamos. Nossa mente se torna cauterizada e o humanismo e o secularismo passam ser opções entorpecentes (I Tm 4:1-2). Viram o nosso sedativo e nossa adicção para a justiça própria. Transformam-se em nossa estação de parada na nossa fuga de Deus.

Mas Deus é um Deus de busca. Não gosto muito de um autor cristão que compara Deus a um cão de caça, farejador, mas num ponto ele tem razão. Deus vai atrás de cada pessoa. Ele busca e Ele acha. E quando encontra cada um de nós é inevitável o confronto: “Quem te fez saber que estavas nu?” “Fizeste o que te ordenei não fazer?” (Gn 3:11). Há amor, há perdão, há salvação. Mas muitas vezes nossa atitude (extremamente encorajada na sociedade moderna) é depositar a culpa no outro. “A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.” Adão, assim como Eva, ao culpar a serpente, não entendeu que, ao culparem outros na realidade estavam culpando a Deus.

Quantas vezes questionamos nossa vida, nossas condições, nossos próximos. Se formos o que somos ou se estamos na enrascada que estamos a culpa é de outro. Eu sou bom. O meio em que vivo, as circunstâncias, as pessoas é que me levam a agir como ajo. Não nego o fato de que, eventualmente, somos duramente forçados a fazer escolhas dentro de circunstâncias extremas. Mas ainda assim são escolhas. E escolhas são feitas por seres moralmente responsáveis, ou seja, devem responder pelo que escolhem. E, resumindo a história, essa questão sempre vai acabar no dilema: Se existe Deus porque Ele permitiu o mal? Se existe Satanás porque Deus não o destruiu deste o princípio? E por aí vai. Não percebemos que sempre estaremos dizendo: A minha vida deveria ser como eu acho que deveria ser e não dentro do Teu propósito. A culpa é Tua.

Ao agirmos dessa forma não percebemos (e está descrito de forma bem clara, na seqüência da queda – Gn 3:14-24) que além de não termos arrependimento verdadeiro diante de Deus trazemos maldição de uns para outros e contra o planeta. Qual é o pecado que destrói nossas vidas. Não é o pecado de outros. É o nosso próprio pecado. Graças a Deus, que em meio a toda a desgraça que se sucedeu, temos a promessa do salvador e redentor que viria e veio para salvar os verdadeiramente quebrantados e arrependidos. Aqueles que choram pelo seu próprio pecado. Aqueles que sabem que os cravos enfiados nas mãos e pés de Jesus foram martelados pelas suas próprias mãos, que sabem que a coroa de espinhos foi feita por eles mesmos.

Soli Deo Gloria.

domingo, 31 de julho de 2011

O que aprendi com os amigos que me antecederam (2)

O que aprendi com Eva

Não sou feminista. Reconheço, entretanto, que movimentos feministas lutaram e lutam por causas que são válidas e trazem direito e respeito à mulher em algumas questões básicas da vida. Não apoio movimentos que lutem pela supremacia da mulher em relação ao homem em detrimento do modelo bíblico de completude do casal onde há singularidade de percepção e ação de cada uma das partes (HOMEM-MULHER). Cada um tem o seu foco, o seu papel a desempenhar e, se isso não ocorre, é mais uma prova de como o pecado degenera e destrói o projeto de Deus.

Não apoio, da mesma forma, homens que, inclusive se valendo da Bíblia, tratam a mulher como coisa, como ser de segunda classe, que a desrespeitam e se utilizam dela por meios de domínio e subjugação. Não é este o modelo bíblico de liderança e dominância do marido no lar. Mulher é mulher e homem é homem. Mulher é feminina e deve ser e homem deve ser masculino. O mundo muda os padrões de Deus não. O que Ele criou, e como criou, permanece como norma.

Vimos, na postagem anterior, a respeito de Adão, como ele foi responsabilizado pela entrada do pecado em nosso planeta. Eva foi tentada por Satanás e enganada (2 Cor 11:3). Vimos que há uma lacuna que não descreve o envolvimento de Adão até ao ponto em que lhe foi oferecido o fruto proibido. Adão foi tentado por Eva. A palavra diz que ambos foram tentados em suas próprias concupiscências ou desejos maus (Tiago 1:14).

Às vezes muitas verdades são ditas em tom de brincadeiras e galhofas. O ser humano se esquece do que Cristo ensinou; que a boca fala daquilo que o coração está cheio.... Muitas vezes, em cultos e outras atividades da igreja, onde é citada a questão da queda pela tentação de Eva, risadinhas, piadinhas e comentários mordazes revelam, de forma não tão velada, que muitos ainda têm preconceitos, constrangimentos e falsas idéias ao lidar com o assunto. Muitos crentes ainda culpam a mulher, apenas, por adultérios, lascívias, pela imoralidade e pela sensualidade desenfreada. Nada mais preconceituoso, uma vez que ambos, homem e mulher, têm a mesma responsabilidade moral diante de Deus.

Estabelecidas essas premissas podemos buscar compreender algumas leituras da tentação no Éden, como um processo que pode afetar tanto o homem como a mulher.

Filho meu, se aceitares as minhas palavras e esconderes contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido e para inclinares o coração ao entendimento, e se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; é escudo para os que caminham na sinceridade. Provérbios 2:1-7

Filho meu, não te esqueças dos meus ensinos e o teu coração guarde os meus mandamentos. Provérbios 3:1

Confia no Senhor de todo o teu coração E NÃO TE ESTRIBES NO TEU PRÓPRIO ENTENDIMENTO. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e Ele  endireitará as tuas veredas. NÃO SEJAS SÁBIO AOS TEUS PRÓPRIOS OLHOS; teme ao Senhor e aparta-te do mal. Provérbios 3:5-7

Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente... e ser-lhe-á concedida. Tiago 1:5

Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito disse à mulher: É ASSIM QUE DEUS DISSE: NÃO COMEREIS DE TODA ÁRVORE DO JARDIM? Gênesis 3:1

 A primeira lição que aprendo de Eva é sutil, mas esclarecedora. Satanás apela aos meus maus desejos e ambições egoístas distorcendo a palavra de Deus. Cair nessa cilada leva a conseqüências desastrosas e funestas. Deus havia ordenado a Adão: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.

A inversão das palavras distorce a ordem de Deus. Da liberdade de comer de todas as árvores exceto uma passamos à restrição generalizada. Dito de forma tão sutil o leitor incauto pode não perceber os princípios que há por trás do processo. Satanás transformou a ampla liberalidade de Deus e uma regra de exceção que se constituiria em um teste de lealdade em uma proibição quase total. E a frase é verdadeira. Realmente ao proibir de comerem da árvore do conhecimento do bem e do mal, dentro do universo de todas as árvores do jardim, Deus disse que eles não poderiam comer de todas, mas Sua ênfase foi na abrangência da liberdade e não na restrição. Era como se Deus dissesse: Vejam tudo que vocês têm. Vocês não devem comer desta única, mas vocês nem precisam dela, há tantas outras...

Dito por satanás, que carrega a ênfase na proibição, na restrição, a frase distorce a liberdade e caracteriza Deus como alguém que não joga claro, que esconde coisas, que se furta de prover o necessário a seus filhos. Dito dessa forma parece que há muito mais coisas restritas do que aquelas que são permitidas. Não é assim que agimos muitas vezes em nossa rebelião. Tratamos a Deus como se ele fosse injusto e mau, como se ele fosse perverso e tivesse prazer em nos ver sofrer quando interpretamos que nossa vida não é aquilo que achamos que devia ser.

O que aprendi com Eva é que esse tipo de pensamento é algo que pode ser implantado em minha mente. Ao ouvir e considerar pessoas que reclamam da vida, reclamam do marido ou da esposa, reclamam de salário, reclamam da saúde, reclamam das outras pessoas, enfim, reclamam de tudo, sou tentado a me sensibilizar com elas e pensar que às vezes eu também tenho o direito de exigir mais. Sou levado a pensar que Deus poderia ter sido ou ser melhor para mim.  Sou, como Eva, levado a pensar que Deus está escondendo ou restringindo bênçãos de mim.

Em épocas de uma teologia da prosperidade espúria e apelativa às mais vis cobiças do ser humano e quando as pessoas são cada vez mais despreparadas para a adversidade e o sofrimento dos embates da vida devo considerar o modo como vejo minha vida. O valor que dou às oportunidades e desafios como modeladores do meu caráter e de minha santificação fazem-me ver a Deus como um doador de bênçãos liberal. Se busco apenas o prazer imediato neste lado da vida, Deus pode se tornar um algoz por não realizar todas as minhas vontades e paixões carnais.

Eva sabia da restrição divina em sua forma correta (Gênesis 3:3), tanto que adicionou até uma própria ampliação da restrição: nem tocareis nele.... Deus havia proibido de comerem, não há proibição revelada para que tocassem. Aquilo que nos tenta, em nossas cobiças, deve ser evitado por nós, de fato, mas um acréscimo ao que Deus ordena pode ser um mecanismo nosso de reverberar a distorção que satanás fez com as palavras de Deus. Quantos não se privam de prazeres por acrescentar fardos e fardos desnecessários à mortificação do eu. Muitos crentes sofrem de uma síndrome da falta de prazer espiritual. A vida da fé deixa de ser séria para ser enfadonha.

Uma segunda lição que aprendo com Eva é o modo pelo qual ela foi tentada. Ela olhou a árvore proibida. Quanto tempo? Com quanta lascívia? Tudo se resume no que se segue. Ela analisou a árvore e concluiu que era: boa para se comer, agradável aos olhos e desejável para dar entendimento. Três razões. Três apelos.

Nunca deixei de relacionar essas três vertentes da cobiça de Eva com as três etapas do processo de tentação de Cristo. Foi tentado no apetite, foi tentado na admiração dos reinos  e da glória deste mundo e foi tentado no entendimento: Se és filho de Deus... (Mateus 4:1-11). E também nunca deixo de vincular esses eventos ao que João orienta: porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida não procedem do Pai, mas procedem do mundo (1 João 2:16). A questão sempre se resume nisso; apetites carnais, luxúria e poder (fama, orgulho, domínio). Ao sermos tentados em sermos os nossos próprios deuses o prato de lentilha pelo qual trocamos nossa filiação divina é cheio de um ou de todos esses três fatores.

Ao ver que Eva tomou da árvore e a comeu penso em mim. Penso nas inúmeras vezes, a cada dia, em que sucumbo diante de tentações. Penso em como minha concupiscência me leva para longe de obedecer ao Senhor Deus e me leva para perto do engano implantado de que eu seria meu próprio deus. Também sou levado, pela graça do Espírito, a refletir o quanto eu tenho de mortificar a minha carne para andar na graça para a qual fui chamado viver (Romanos 8:13).

Soli Deo gloria.

domingo, 24 de julho de 2011

O que eu aprendi com os amigos que me antecederam (1)

O que eu aprendi com os amigos que me antecederam (1)

O que eu aprendi com Adão

Creio na literalidade do relato bíblico em Gênesis. Creio na criação divina do universo, da terra, dos seres vivos, do homem e da mulher como está ali narrado. Sei que muitos crentes têm problemas com isso e sei que muitos procuram não pensar profundamente nessas questões das origens para não entrar em parafuso. Não deve ser assim. O fato de não podermos compreender totalmente um assunto não nos deve afastar do mesmo. Isso é maior verdade ainda em se tratando de questões bíblicas.

                Quando leio sobre Adão há muitas perguntas que faço a Deus, em oração e temor. Creio que há uma distinção solene no fato de o Senhor (de fato a Trindade – “façamos...”) ter feito o homem pessoalmente. Manufaturado, por assim dizer, ao invés do “faça-se” que deu origem a tudo o mais por aqui. Essa distinção, embora a Bíblia dê o devido valor ao homem – coroa da criação, pouco menor que anjos..., não me leva a um humanismo exacerbado que eleva o homem ao lugar de Deus e põe Deus submisso ao homem que Ele criou. Pelo contrário, essa distinção me fala da responsabilidade que criaturas tão elaboradamente criadas e com responsabilidade moral tinham para com seu Criador. Fala da distância que foi criada entre Criador e criatura após a queda. Fala do dano total e irreversível que foi criado na imagem divina após a sucumbência ao pecado.

                Creio que Adão podia escolher o pecado. Podia, mas não devia. O Criador já estabelecera para ele um propósito de vida, um plano. Em seu relacionamento de comunhão, na forma como ocorria no Éden, creio mesmo que esse plano poderia ser até discutido e questionado por Adão e que Deus poderia ou não lhe dar as razões para os Seus propósitos. Deus é Deus e Adão era Adão. Em certo sentido Adão é cada um de nós. Creio que há um propósito muito bem definido  para criação animal ser formada aos pares e o relato bíblico revelar que por um certo tempo Adão viu os pares de animais e viu que estava só. Creio num propósito muito bem definido para o fato de Adão ter sido adormecido pelas mãos divinas,  sem uma companheira, e ter sido desperto, do mesmo modo, pelas mão divinas, mas agora ao lado daquela que era “osso dos seus ossos e carne de sua carne...”.

                A vida ao lado de Eva, a mãe de todos os viventes, transcorria agradável e perfeita até que Adão teve de enfrentar a prova de sua fé, o teste de sua obediência. Creio em um propósito perfeito da parte de Deus quando Ele permite que Eva seja tentada. Aqui abro um parêntesis e relato a angústia de muitos crentes sinceros que se perguntam: “Onde estava Adão quando Eva foi tentada? Se estava ao seu lado porque não a corrigiu e a impediu de tamanho pecado contra Deus? Se Adão estava longe, onde estava? Isso dá margem a muitos questionamentos e é explorado por bons psicólogos cristãos, como o Dr. Larry Crabb no livro – O SILÊNCIO DE ADÃO – onde, a partir dessas questões, traça um paralelo com o abandono, por parte dos homens, de seu papel no lar, como provedores, sacerdotes e cabeças de família. Paulo em 2 Cor 11:3 reforça o fato de que Eva foi enganada e no capítulo 5 da epístola aos Romanos deixa claro que a ofensa contra Deus foi efetuada por Adão.

                Creio que houve uma prova para Eva. Não quero dizer que Eva era descartável. Mas a grande prova de obediência foi dada a Adão. Veja que o relato bíblico é silente a respeito do fato se Deus deu a mesma prova a Eva ou não, ou se isso era incumbência de Adão. O fato é que Eva foi enganada e dão se viu em uma situação de risco. Ao ter oferecido para si, da parte de Eva, o fruto proibido, ele teve diante de si dois caminhos; o primeiro – seguir a vontade de Deus – e aqui entra o que creio ser a perfeição do relato bíblico, crer que seguindo o plano para o qual fora criado deveria confiar plenamente no seu Criador e enxergar que se Ele havia lhe dado uma companheira poderia lhe dar outra caso rejeitasse essa que o tentava. De certa forma vejo aqui a mesma prova que Abrão teve de passar, ao ter de abrir mão de Isaque em seu coração.

                O segundo caminho nós conhecemos. Foi decidir pelo que tinha em mãos, pelo que falava ao sensorial, pelo que a razão e a mente estimuladas por argumentos falaciosos podem alcançar. Satanás conseguiu por dentro da mente de Eva (e a levou a fazer o mesmo com Adão) exatamente aquilo que almejava Is 14:14.  Adão, como qualquer um de nós, foi tentado por sua própria cobiça (Tg 1:14) e a responsabilidade que ele tem pela entrada do pecado nesse mundo reside bem aí. O resultado da escolha de Adão nós conhecemos e, todos, sofremos por isso. O mais triste da história é que, após a manifestação da desconfiança em Deus, a comunhão direta na presença do Pai foi rompida.

                O que aprendi com Adão? Nele me vejo a cada instante que tenho de fazer uma escolha. Gostaria de dizer que já sofri tanto com meus erros que agora só faço escolhas certas. Isso não é verdade. A cada dia, em todas as áreas da minha vida, ainda escolho a proposta da serpente. Tenho sido transformado pela graça de Cristo e toda a glória por isso é devida somente a Ele. Mas a velha natureza parece uma hidra. Muitas vezes tenho a impressão de que pecados cortados voltam com dez cabeças no lugar. Que batalha árdua.

                Muitas vezes penso em Adão já maduro, convivendo com muitos de seus descendentes, alguns dos “filhos de Deus” e outros dos “filhos dos homens”. Alguns adoradores e com esperança na promessa feita em Gên 3:15 e outros sem fé e sem esperança em Deus. Penso em como ele se sentia ao contemplar os resultados drásticos que advieram de uma única escolha, uma decisão mal feita. Contemplo minhas escolhas erradas e vejo o mesmo quadro. Quantas pessoas eu poderia ter evitado magoar? Quantos caminhos corretos eu poderia ter tomado? Quantas dores poderiam ser evitadas? E mais importante ainda, quantas vezes eu poderia ter deixado de ofender a Deus e pecar contra a Sua santidade? 

                Hoje, quando tenho de decidir algo penso em Cristo. E penso em Adão também. Algumas vezes contemplar o que ocorreu com a humanidade por causa de sua escolha errada me leva a contemplar o que aconteceu comigo porque Cristo abdicou de si mesmo e fez escolhas corretas (Jo 4:34 e Mc 14:36). Isso tem me levado a tomar decisões mais santificadas.

Soli Deo Gloria

sábado, 23 de julho de 2011

O que eu aprendi com os amigos que me antecederam (Introdução)

Nesta época em que vivemos prevalece uma teologia muito relacional. O que vale é a experiência pessoal. Infelizmente muitos enaltecem essa abordagem da Bíblia a despeito de Uma Verdade Absoluta (que não é, biblicamente falando, apenas um conceito, mas sim uma pessoa, o Senhor Jesus Cristo). Creio que a Palavra fala, a cada um, em sua necessidade, por meio da ação do Espírito Santo. Creio que é desse modo que cada pessoa vai sendo transformada e santificada pelo poder de Deus.

Creio, acima de tudo, que a relação com a Palavra cria uma convergência. Todos aqueles que são transformados pelo poder regenerador de Deus, através de uma fé salvífica na graça exclusiva por meio da expiação que Cristo fez, vão se aproximar de um centro. Um ponto único. Apesar das personalidades distintas, apesar de dons únicos, os crentes fiéis vão sendo moldados à imagem e semelhança de Cristo. Esse é o objetivo de Deus na regeneração por meio do novo nascimento e da nova vida em Cristo Jesus.

Creio no sensus plenior. Creio que além, muito além do que a Palavra diz para mim num dado momento há o que Deus quer dizer como verdade mais profunda, mais geral e ampla, mais universal. Glória ao nome dEle quando o que eu entendo e tomo para mim, da leitura da Palavra é aquilo que Ele realmente quer que todo crente entenda, aceite e pratique em sua vida. Creio nisso porque sei que posso ler a Bíblia de várias formas que não são legítimas. Posso ler a Palavra de Deus com má vontade, por obrigação, contrariado, apressado, com preconceitos e pressupostos errôneos e até mesmo mal intencionado (contra Deus e contra meu próximo). Ler a Palavra em espírito de quebrantamento e submissão é o desejável. É aí que o oleiro pode moldar o barro, é aí que a transformação e a renovação da mente ocorrem.

Aprendi a ler a Bíblia, com um amigo, de uma forma bem interessante. Cada Pessoa que é ali apresentada torna-se um conhecido, e, com o passar do tempo, um amigo. Amigos dizem coisas uns aos outros. Boas coisas, como elogios. Mas fazem críticas também. Ao conhecer a vida das pessoas passamos a gostar mais delas, ou menos. Observamos como elas pensam e porque agem como agem. Aprendemos delas pelos bons exemplos e pelos maus também. O ideal é que os maus exemplos nos ensinem a como não agir ou como não pensar em determinadas situações.

Com essa série de postagens desejo compartilhar o que aprendi de cada personagem à medida que leio a Bíblia. Não digo que o que apresentarei é o sentido pleno do que Deus quer dizer, pela revelação, com a vida daquela pessoa. Me esforçarei para tentar por em palavras simples o que penso ser o que a Palavra revela. Se eu estiver equivocado mande-me uma mensagem. Provavelmente deverá ser uma área onde estou me atendo mais à minha interpretação e aplicação pessoal do que ao que Deus quer dizer. Ou pode ser que eu esteja certo e você discorde porque precisa rever o que Deus quer dizer. Pode ser ainda que ambos necessitemos crescer. Cultivemos um espírito irênico (pacífico) e vamos crescer juntos. Não discordo da necessidade da apologética. Creio que há um espaço enorme a ser percorrido pela cristandade com relação a compartilhar e viver o crescimento diário na Palavra e na fé em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Soli Deo Glória!