domingo, 31 de julho de 2011

O que aprendi com os amigos que me antecederam (2)

O que aprendi com Eva

Não sou feminista. Reconheço, entretanto, que movimentos feministas lutaram e lutam por causas que são válidas e trazem direito e respeito à mulher em algumas questões básicas da vida. Não apoio movimentos que lutem pela supremacia da mulher em relação ao homem em detrimento do modelo bíblico de completude do casal onde há singularidade de percepção e ação de cada uma das partes (HOMEM-MULHER). Cada um tem o seu foco, o seu papel a desempenhar e, se isso não ocorre, é mais uma prova de como o pecado degenera e destrói o projeto de Deus.

Não apoio, da mesma forma, homens que, inclusive se valendo da Bíblia, tratam a mulher como coisa, como ser de segunda classe, que a desrespeitam e se utilizam dela por meios de domínio e subjugação. Não é este o modelo bíblico de liderança e dominância do marido no lar. Mulher é mulher e homem é homem. Mulher é feminina e deve ser e homem deve ser masculino. O mundo muda os padrões de Deus não. O que Ele criou, e como criou, permanece como norma.

Vimos, na postagem anterior, a respeito de Adão, como ele foi responsabilizado pela entrada do pecado em nosso planeta. Eva foi tentada por Satanás e enganada (2 Cor 11:3). Vimos que há uma lacuna que não descreve o envolvimento de Adão até ao ponto em que lhe foi oferecido o fruto proibido. Adão foi tentado por Eva. A palavra diz que ambos foram tentados em suas próprias concupiscências ou desejos maus (Tiago 1:14).

Às vezes muitas verdades são ditas em tom de brincadeiras e galhofas. O ser humano se esquece do que Cristo ensinou; que a boca fala daquilo que o coração está cheio.... Muitas vezes, em cultos e outras atividades da igreja, onde é citada a questão da queda pela tentação de Eva, risadinhas, piadinhas e comentários mordazes revelam, de forma não tão velada, que muitos ainda têm preconceitos, constrangimentos e falsas idéias ao lidar com o assunto. Muitos crentes ainda culpam a mulher, apenas, por adultérios, lascívias, pela imoralidade e pela sensualidade desenfreada. Nada mais preconceituoso, uma vez que ambos, homem e mulher, têm a mesma responsabilidade moral diante de Deus.

Estabelecidas essas premissas podemos buscar compreender algumas leituras da tentação no Éden, como um processo que pode afetar tanto o homem como a mulher.

Filho meu, se aceitares as minhas palavras e esconderes contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido e para inclinares o coração ao entendimento, e se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; é escudo para os que caminham na sinceridade. Provérbios 2:1-7

Filho meu, não te esqueças dos meus ensinos e o teu coração guarde os meus mandamentos. Provérbios 3:1

Confia no Senhor de todo o teu coração E NÃO TE ESTRIBES NO TEU PRÓPRIO ENTENDIMENTO. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e Ele  endireitará as tuas veredas. NÃO SEJAS SÁBIO AOS TEUS PRÓPRIOS OLHOS; teme ao Senhor e aparta-te do mal. Provérbios 3:5-7

Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente... e ser-lhe-á concedida. Tiago 1:5

Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito disse à mulher: É ASSIM QUE DEUS DISSE: NÃO COMEREIS DE TODA ÁRVORE DO JARDIM? Gênesis 3:1

 A primeira lição que aprendo de Eva é sutil, mas esclarecedora. Satanás apela aos meus maus desejos e ambições egoístas distorcendo a palavra de Deus. Cair nessa cilada leva a conseqüências desastrosas e funestas. Deus havia ordenado a Adão: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.

A inversão das palavras distorce a ordem de Deus. Da liberdade de comer de todas as árvores exceto uma passamos à restrição generalizada. Dito de forma tão sutil o leitor incauto pode não perceber os princípios que há por trás do processo. Satanás transformou a ampla liberalidade de Deus e uma regra de exceção que se constituiria em um teste de lealdade em uma proibição quase total. E a frase é verdadeira. Realmente ao proibir de comerem da árvore do conhecimento do bem e do mal, dentro do universo de todas as árvores do jardim, Deus disse que eles não poderiam comer de todas, mas Sua ênfase foi na abrangência da liberdade e não na restrição. Era como se Deus dissesse: Vejam tudo que vocês têm. Vocês não devem comer desta única, mas vocês nem precisam dela, há tantas outras...

Dito por satanás, que carrega a ênfase na proibição, na restrição, a frase distorce a liberdade e caracteriza Deus como alguém que não joga claro, que esconde coisas, que se furta de prover o necessário a seus filhos. Dito dessa forma parece que há muito mais coisas restritas do que aquelas que são permitidas. Não é assim que agimos muitas vezes em nossa rebelião. Tratamos a Deus como se ele fosse injusto e mau, como se ele fosse perverso e tivesse prazer em nos ver sofrer quando interpretamos que nossa vida não é aquilo que achamos que devia ser.

O que aprendi com Eva é que esse tipo de pensamento é algo que pode ser implantado em minha mente. Ao ouvir e considerar pessoas que reclamam da vida, reclamam do marido ou da esposa, reclamam de salário, reclamam da saúde, reclamam das outras pessoas, enfim, reclamam de tudo, sou tentado a me sensibilizar com elas e pensar que às vezes eu também tenho o direito de exigir mais. Sou levado a pensar que Deus poderia ter sido ou ser melhor para mim.  Sou, como Eva, levado a pensar que Deus está escondendo ou restringindo bênçãos de mim.

Em épocas de uma teologia da prosperidade espúria e apelativa às mais vis cobiças do ser humano e quando as pessoas são cada vez mais despreparadas para a adversidade e o sofrimento dos embates da vida devo considerar o modo como vejo minha vida. O valor que dou às oportunidades e desafios como modeladores do meu caráter e de minha santificação fazem-me ver a Deus como um doador de bênçãos liberal. Se busco apenas o prazer imediato neste lado da vida, Deus pode se tornar um algoz por não realizar todas as minhas vontades e paixões carnais.

Eva sabia da restrição divina em sua forma correta (Gênesis 3:3), tanto que adicionou até uma própria ampliação da restrição: nem tocareis nele.... Deus havia proibido de comerem, não há proibição revelada para que tocassem. Aquilo que nos tenta, em nossas cobiças, deve ser evitado por nós, de fato, mas um acréscimo ao que Deus ordena pode ser um mecanismo nosso de reverberar a distorção que satanás fez com as palavras de Deus. Quantos não se privam de prazeres por acrescentar fardos e fardos desnecessários à mortificação do eu. Muitos crentes sofrem de uma síndrome da falta de prazer espiritual. A vida da fé deixa de ser séria para ser enfadonha.

Uma segunda lição que aprendo com Eva é o modo pelo qual ela foi tentada. Ela olhou a árvore proibida. Quanto tempo? Com quanta lascívia? Tudo se resume no que se segue. Ela analisou a árvore e concluiu que era: boa para se comer, agradável aos olhos e desejável para dar entendimento. Três razões. Três apelos.

Nunca deixei de relacionar essas três vertentes da cobiça de Eva com as três etapas do processo de tentação de Cristo. Foi tentado no apetite, foi tentado na admiração dos reinos  e da glória deste mundo e foi tentado no entendimento: Se és filho de Deus... (Mateus 4:1-11). E também nunca deixo de vincular esses eventos ao que João orienta: porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida não procedem do Pai, mas procedem do mundo (1 João 2:16). A questão sempre se resume nisso; apetites carnais, luxúria e poder (fama, orgulho, domínio). Ao sermos tentados em sermos os nossos próprios deuses o prato de lentilha pelo qual trocamos nossa filiação divina é cheio de um ou de todos esses três fatores.

Ao ver que Eva tomou da árvore e a comeu penso em mim. Penso nas inúmeras vezes, a cada dia, em que sucumbo diante de tentações. Penso em como minha concupiscência me leva para longe de obedecer ao Senhor Deus e me leva para perto do engano implantado de que eu seria meu próprio deus. Também sou levado, pela graça do Espírito, a refletir o quanto eu tenho de mortificar a minha carne para andar na graça para a qual fui chamado viver (Romanos 8:13).

Soli Deo gloria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário