domingo, 24 de julho de 2011

O que eu aprendi com os amigos que me antecederam (1)

O que eu aprendi com os amigos que me antecederam (1)

O que eu aprendi com Adão

Creio na literalidade do relato bíblico em Gênesis. Creio na criação divina do universo, da terra, dos seres vivos, do homem e da mulher como está ali narrado. Sei que muitos crentes têm problemas com isso e sei que muitos procuram não pensar profundamente nessas questões das origens para não entrar em parafuso. Não deve ser assim. O fato de não podermos compreender totalmente um assunto não nos deve afastar do mesmo. Isso é maior verdade ainda em se tratando de questões bíblicas.

                Quando leio sobre Adão há muitas perguntas que faço a Deus, em oração e temor. Creio que há uma distinção solene no fato de o Senhor (de fato a Trindade – “façamos...”) ter feito o homem pessoalmente. Manufaturado, por assim dizer, ao invés do “faça-se” que deu origem a tudo o mais por aqui. Essa distinção, embora a Bíblia dê o devido valor ao homem – coroa da criação, pouco menor que anjos..., não me leva a um humanismo exacerbado que eleva o homem ao lugar de Deus e põe Deus submisso ao homem que Ele criou. Pelo contrário, essa distinção me fala da responsabilidade que criaturas tão elaboradamente criadas e com responsabilidade moral tinham para com seu Criador. Fala da distância que foi criada entre Criador e criatura após a queda. Fala do dano total e irreversível que foi criado na imagem divina após a sucumbência ao pecado.

                Creio que Adão podia escolher o pecado. Podia, mas não devia. O Criador já estabelecera para ele um propósito de vida, um plano. Em seu relacionamento de comunhão, na forma como ocorria no Éden, creio mesmo que esse plano poderia ser até discutido e questionado por Adão e que Deus poderia ou não lhe dar as razões para os Seus propósitos. Deus é Deus e Adão era Adão. Em certo sentido Adão é cada um de nós. Creio que há um propósito muito bem definido  para criação animal ser formada aos pares e o relato bíblico revelar que por um certo tempo Adão viu os pares de animais e viu que estava só. Creio num propósito muito bem definido para o fato de Adão ter sido adormecido pelas mãos divinas,  sem uma companheira, e ter sido desperto, do mesmo modo, pelas mão divinas, mas agora ao lado daquela que era “osso dos seus ossos e carne de sua carne...”.

                A vida ao lado de Eva, a mãe de todos os viventes, transcorria agradável e perfeita até que Adão teve de enfrentar a prova de sua fé, o teste de sua obediência. Creio em um propósito perfeito da parte de Deus quando Ele permite que Eva seja tentada. Aqui abro um parêntesis e relato a angústia de muitos crentes sinceros que se perguntam: “Onde estava Adão quando Eva foi tentada? Se estava ao seu lado porque não a corrigiu e a impediu de tamanho pecado contra Deus? Se Adão estava longe, onde estava? Isso dá margem a muitos questionamentos e é explorado por bons psicólogos cristãos, como o Dr. Larry Crabb no livro – O SILÊNCIO DE ADÃO – onde, a partir dessas questões, traça um paralelo com o abandono, por parte dos homens, de seu papel no lar, como provedores, sacerdotes e cabeças de família. Paulo em 2 Cor 11:3 reforça o fato de que Eva foi enganada e no capítulo 5 da epístola aos Romanos deixa claro que a ofensa contra Deus foi efetuada por Adão.

                Creio que houve uma prova para Eva. Não quero dizer que Eva era descartável. Mas a grande prova de obediência foi dada a Adão. Veja que o relato bíblico é silente a respeito do fato se Deus deu a mesma prova a Eva ou não, ou se isso era incumbência de Adão. O fato é que Eva foi enganada e dão se viu em uma situação de risco. Ao ter oferecido para si, da parte de Eva, o fruto proibido, ele teve diante de si dois caminhos; o primeiro – seguir a vontade de Deus – e aqui entra o que creio ser a perfeição do relato bíblico, crer que seguindo o plano para o qual fora criado deveria confiar plenamente no seu Criador e enxergar que se Ele havia lhe dado uma companheira poderia lhe dar outra caso rejeitasse essa que o tentava. De certa forma vejo aqui a mesma prova que Abrão teve de passar, ao ter de abrir mão de Isaque em seu coração.

                O segundo caminho nós conhecemos. Foi decidir pelo que tinha em mãos, pelo que falava ao sensorial, pelo que a razão e a mente estimuladas por argumentos falaciosos podem alcançar. Satanás conseguiu por dentro da mente de Eva (e a levou a fazer o mesmo com Adão) exatamente aquilo que almejava Is 14:14.  Adão, como qualquer um de nós, foi tentado por sua própria cobiça (Tg 1:14) e a responsabilidade que ele tem pela entrada do pecado nesse mundo reside bem aí. O resultado da escolha de Adão nós conhecemos e, todos, sofremos por isso. O mais triste da história é que, após a manifestação da desconfiança em Deus, a comunhão direta na presença do Pai foi rompida.

                O que aprendi com Adão? Nele me vejo a cada instante que tenho de fazer uma escolha. Gostaria de dizer que já sofri tanto com meus erros que agora só faço escolhas certas. Isso não é verdade. A cada dia, em todas as áreas da minha vida, ainda escolho a proposta da serpente. Tenho sido transformado pela graça de Cristo e toda a glória por isso é devida somente a Ele. Mas a velha natureza parece uma hidra. Muitas vezes tenho a impressão de que pecados cortados voltam com dez cabeças no lugar. Que batalha árdua.

                Muitas vezes penso em Adão já maduro, convivendo com muitos de seus descendentes, alguns dos “filhos de Deus” e outros dos “filhos dos homens”. Alguns adoradores e com esperança na promessa feita em Gên 3:15 e outros sem fé e sem esperança em Deus. Penso em como ele se sentia ao contemplar os resultados drásticos que advieram de uma única escolha, uma decisão mal feita. Contemplo minhas escolhas erradas e vejo o mesmo quadro. Quantas pessoas eu poderia ter evitado magoar? Quantos caminhos corretos eu poderia ter tomado? Quantas dores poderiam ser evitadas? E mais importante ainda, quantas vezes eu poderia ter deixado de ofender a Deus e pecar contra a Sua santidade? 

                Hoje, quando tenho de decidir algo penso em Cristo. E penso em Adão também. Algumas vezes contemplar o que ocorreu com a humanidade por causa de sua escolha errada me leva a contemplar o que aconteceu comigo porque Cristo abdicou de si mesmo e fez escolhas corretas (Jo 4:34 e Mc 14:36). Isso tem me levado a tomar decisões mais santificadas.

Soli Deo Gloria

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